quinta-feira, 6 de junho de 2013

Memorial do Convento - Apresentação oral

Memorial do Convento
Tópicos possíveis de apresentar:
1. Os conceitos de: justiça (enquanto conceito propriamente dito e enquanto exercício prático); integridade; dignidade; dever (cumprimento de um dever); sacrifício (ou modos de encarar a ideia de sacrifício, nomeadamente tendo em consideração o Livro de Job); virtude (o que é um homem virtuoso); esquecimento (vantagens e desvantagens de uma atitude “esquecida” ou uma atualização do conceito de esquecimento); imaginação (confronto com a ideia romântica de imaginação. O que é uma imaginação produtiva); mentira (o que é mentir?); edificação (como se apresenta e será que se apresenta este conceito ao longo da ação da obra?); perdão; resignação e/ou aceitação; destino; sombra.
2. Conceito(s) de religião em Memorial do Convento, de José Saramago.
3. Estrutura da ação da obra; identificação, caracterização e papel desempenhado por cada personagem.
4. Relações sociais em Memorial do Convento.
5. O que é viver num mundo de enganos?
6. Como enfrentar / suportar adversidades? Que estratégias se nos apresentam ao longo da ação da obra?











Síntese
Saramago, em Memorial do Convento, recorre a um momento da Historia e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão sobre esses acontecimentos, sobre o comportamento e o destino humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.
Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V, no seculo 18, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século 20.
Durante o reinado, o rigor e as perseguições do Santo Ofício aumentam com vitimas que tanto podem ser cristãos novos como todos os considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição.
Memorial do Convento caractireza uma época de escessos e diferenças sociais, que se mantêm na atualidade: opulência/miséria – poder/opressão – devassidão/penitência – sagrado/profano – amor ausente/amor sincero.
Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos veríficos com seres conseguidos pela ficção.
Romance histórico, Memorial do Convento oferece-nos uma minunciosa descrição da sociedade portuguesa do inicio do século 18. Romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido. Romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva portuguesa da primeira metade do século 20. Romance de espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
Em Memorial do Convento, há duas linhas condutoras da acção: a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltasar e Blimunda.
A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofirmento do povo.
Pararelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, ternumar, misticismo e magia.
As duas acções, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica.
Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra
A reconstituição da História passa pela ficção, revelando um aparente desprezo do tempo.
Em Memorial do Convento o romance histórico convive e entretece-se com o universo mágico criado pela ficção.
As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.
As personagens femininas adquirem, na obra, um claro relevo: D. Maria Ana é uma rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de aparência e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.
Saramago reijeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção.
Uma voz narrativa controla a acção narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas faz tambem as suas reflexoes e juizos valorativos.
A História, em Memorial do Convento, torna-se matéria simbólico para refletir sobre o presente, na perspectiva da denúncia e dela extrair uma moralidade que sirva de lição para o futuro.
Observando o Memorial do Convento, julgamos que a escrita saramaguiana persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites.
Em Memorial do Convento há diversas vezes um discurso de sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como descontronstroi as situacoes, que dialoga com o narratario ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da História ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironiza.
Estrutura
A estrutura de Memorial de Convento apresenta duas linhas condutoras da ação – construção do convento de Mafra e relações entre Baltasar e Blimundam – que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.
Memorial do Convento está dividido em 25 partes, ou capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecíveis (pelos espaços que as separam)
Personagens
D Joao / Baltasar Sete Sois / Blimunda Sete Luas / Padre Bartolomeu Lourenco / O Povo







MOMENTOS – capítulos
1 – Relação Rei/Rainha e a promessa da construção do convento em Mafra
2 – Os milagres conseguidos pelos fanciscanos e o seu desejo na construção do convento
3 – A situação socioeconomica: excesso de riqueza/extrema pobreza
4 – Baltasar Sete-Sois regressa da guerra maneta
5 – O auto de fé no Rossio e o conhecimento travado entre Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu
6 – O padre Bartolomeu e a máquina voadora
7 – Nascimento da vinha de D João, Maria Barbara
8 – Os poderes de Blimunda em ver dentro dos corpos
                Nascimento do segundi filho de D. João V, o infante D. Pedro
                Escolha do alto da Vela em Mafra para edificar o convento
9 – O Padre Bartolomeu Lourenco parte para a Holanda, enquanto Sete-Sois regressa a Mafra, a casa dos pais, acompanhado de Blimunda
10 – Nascimento do infante D. José, terceiro filho da Rainha
                Doença do rei, enquanto o seu irmão D. Francisco tenta a cunhada, revelando â rainha o interesse em tornar-se seu marido
11 – Regresso do padre Bartolomeu, que deseja que Blimunda consiga armazenar éter composto de “vontades”
12 – Inauguração da primeira pedra do convento, a 17 de novembro de 1717
14 – O musico Scarlatti, napolitano de 35 anos, que ensina a infanta D. Maria Barbara, toma conhecimento do projecto da passarola
15 – A epidemia da cólera e da frebre amarela e a recolha das “vontades” por Blimunda
16 – A concretização da viagem da passarola voadora, com o padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda
17 – O regresso de Baltasar com Blimunda a Mafra, onde começa a trabalhar nas obras do convento, e anúncio da morte do padre Bartolomeu em Toledo
18 – Caracterização dos gastots reais e dos trabalhores em Mafra
19 – Baltasar torna-se boieiro e participa no carregamento da pedra do altar verificando-se, durante o transporte, o esmagamento de 1 trabalhador
21 – Decisão de D. João V de que a sagração do convento se fará em 22 de outubro de 1730, data do seu aniversário
22 – Casamentos da infanta Maria Barbara com o principe Fernando VI de Espanha e do principe D jose com a infanta espanhola Mariana Vitoria
23 – Baltasar vai ao Monte Junto e desaparece com a passarola
24 – Blimunda procura Baltasar, enquanto em Mafra se faz a sagração do convento, em 22 de Outrubro de 1730
25 – Durante nove anos Blimunda procura Baltasar e vai encontra-lo em Lisboa a ser queimado num auto de fé
A religião
Nada instruído ou informado, o povo português facilmente se deixa manipular pela Igreja, pelos seus mandamentos anacrónicos e muito afastados dos princípios defendidos por Jesus Cristo. O próprio rei e demais elementos da corte se incluem nesta categoria, pois pactuam com todos os desejos e interesses da Igreja que ninguém ousa sequer contestar ou interrogar, sob risco de ser acusado de blasfémia ou heresia.
A religião era, na época, um verdadeiro ópio popular, a forma sagaz, inteligente e inebrante de que a igreja dispunha para manter a ordem e os seus grandes lucros. O povo, miserável e analfabeto, vivia continuamente na esperança de um qualquer milagre. É, na ignorância, um povo feliz que «desce à rua para ver desfilar a nobreza toda» para ver chegar o cardeal D. Nuno da Cunha, esquecendo que são estes os responsáveis pela sua desgraça.
Personagem colectiva e anónima, consubstancia-se nos vários populares que reflectem a miséria encardida, as péssimas condições de subsistência, a ignorância e a exploração de que são vítimas. E, no entanto, «este povo habituou-se a viver com pouco.» e não é capaz de evidenciar uma atitude crítica, nem de assumir uma postura reivindicativa ou de revolta, de tal forma vive embriagado com os dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou pensamentos que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé, encarados também como diversão, tal como as touradas.
Com esta consciência, a Igreja sabe tirar partido da sua posição de superioridade e da influência que exerce, funcionando simultaneamente como entretenimento e tribunal, alertando os mortais para os perigos que correm caso não respeitem os mandamentos da santa Igreja. Mas não faculta o exemplo, todos sabem que muitos membros do clero desrespeitam os votos que fizeram, que os seus mais altos dignatários são a personificação da vaidade, da luxúria, da gula, pecados com que se engana o povo, com o intuito de o manter ignorante e mais facilmente manipulável.



Crítica à Igreja
Ponto alto da sátira político-religiosa, o auto-de-fé ou solene julgamento/execução do tribunal da Inquisição, constitui ocasião e motivo singulares para uma ácida crítica comum, à rainha e ao povo.
À rainha, porque, apesar do luto pela morte de seu irmão José, o Imperador da Áustria, e apesar do seu estado, ela não deixaria de frequentar tão solene cerimónia, não fosse a debilitação causada pelas sangrias a que foi submetida. (página 49).
Ao povo, porque sedento de crueldade, oscila na sua preferência entre o auto-de-fé e as touradas (página 50).
O povo, néscio e atrasado, caracterizado por uma grande e indesmentível acefalia religiosa, participa com o mesmo entusiasmo nos autos-de-fé e em novenas e romarias para que a rainha dê ao reino um herdeiro.
A Igreja promove e fomenta, igualmente, as discrepâncias sociais:  «desinteressa-se Deus ... mais os irmãos» (página 109).
O Santo Ofício é continuamente alvo de crítica: «Dos julgamentos do Santo Ofício não se fala aqui.. bocas.» (página 195).
Estamos, pois, em presença de uma crítica mordaz a este modo bem particular de praticar a religião. O poder da Igreja é tanto que consegue ludibriar o povo, embriagá-lo com o fervor religioso e criando-lhe a noção de um Deus omnipresente, nada benevolente ou pacificador, mas castigador. Este poder é exercido com grande demagogia, com consciência de que a religião, de acordo com determinadas regras e preceitos, pode constituir o ópio do povo. Demagógica será, portanto, a procissão de graças por o Espírito Santo ter sobrevoado a Vila de Mafra e a crença de que todos os trabalhadores do convento contribuem para a glória de Deus.









Conceitos
Justiça – Tanto para uns e tão pouco para outros
Dever – Rei e Rainha têm um dever (herditariedade)
Sacrifício – O povo tem sacrificio, tal como o Rei e a Rainha
Relações Sociais – Nobreza e Clero dominam o povo
Sombra
No que diz respeito à presença actuante e poderosa da cor negra350, metáfora da
sombra e da morte, ela está bem patente na crítica que o narrador dirige aos
procedimentos inquisitoriais que condenam ao cárcere, ao degredo e à fogueira:
a tarde desce depressa, mas o calor sufoca ainda, o sol de garrote, sobre o
Rossio caem as grandes sombras do convento do Carmo, as mulheres mortas
são descidas sobre os tições para se acabarem de consumir, e quando já for
noite serão as cinzas espalhadas, nem o Juízo Final as saberá juntar, e as
pessoas voltarão às suas casas, refeitas na fé, levando agarrada à sola dos
sapatos alguma fuligem, pegajosa poeira de carnes negras, sangue acaso
viscoso se nas brasas não se evaporou (p. 54)
nas touradas, e também nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna
mais fechadas as nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais
negras, é como na guerra, treva geral no interior dos homens (p. 146,
destacados nossos).
O tom negro e sombrio é igualmente visível quando o narrador se refere aos
sofrimentos que Mafra representa: «O sol já se pôs, Mafra, em baixo é escura como um
poço» (p. 111), e «Em baixo, distingue-se confusamente o traçado dos caboucos, negro
sobre sombra, há-de ser ali a basílica» (p. 125, destacados nossos).
No sentido de ilustrar a presença de notações visuais e efeitos de luz, deve-se, por
outro lado, lembrar o momento em que se ergue a alegoria do voo, representada pelos
movimentos da sombra da passarola nas paredes da abegoaria, numa espécie de
antecipação da elevação:
350 Para se conhecer a simbologia das cores, sobretudo da cor negra, sugere-se a leitura do artigo “Da
Excelência das cores”, HATHERLY, Ana, in O Ladrão Cristalino. Aspectos do imaginário barroco, ed.
cit., pp. 335-347.
131Fez-se noite (…) Duas candeias mal alumiavam a abegoaria. Nos recantos a
escuridão parecia enovelar-se, avançando e recuando consoante as oscilações
das pequenas e pálidas luzes. A sombra da passarola movia-se sobre a parede
branca. Estava quente a noite. Pela porta aberta acima do telhado do palácio
fronteiro, viam-se estrelas no céu já côncavo (p. 173).
Acresce ainda a presença da cor negra e a associação homem/formiga a convocar
a alegoria da morte e a colocar a tónica nas crueldades a que são sujeitos os
trabalhadores do convento de Mafra: «e depois vem outro homem que transportará a
carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no
caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte»

Tópicos de opinião


·         Relação do conteúdo da obra ao mundo actual
·         A missão de Saramago para os leitores
·         A liberdade época da obra & a liberdade actual no Mundo
·         Relação da ideia de esquecimentos da obra a fenómenos da mesma espécie no Mundo actual

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