Memorial do Convento - Apresentação oral
Memorial do Convento
Tópicos possíveis de
apresentar:
1. Os conceitos de: justiça (enquanto conceito
propriamente dito e enquanto exercício prático); integridade; dignidade; dever
(cumprimento de um dever); sacrifício (ou modos de encarar a ideia de
sacrifício, nomeadamente tendo em consideração o Livro de Job); virtude (o que
é um homem virtuoso); esquecimento (vantagens e desvantagens de uma atitude
“esquecida” ou uma atualização do conceito de esquecimento); imaginação
(confronto com a ideia romântica de imaginação. O que é uma imaginação
produtiva); mentira (o que é mentir?); edificação (como se apresenta e será que
se apresenta este conceito ao longo da ação da obra?); perdão; resignação e/ou
aceitação; destino; sombra.2. Conceito(s) de religião em Memorial do Convento, de José Saramago.
3. Estrutura da ação da obra; identificação, caracterização e papel desempenhado por cada personagem.
4. Relações sociais em Memorial do Convento.
5. O que é viver num mundo de enganos?
6. Como enfrentar / suportar adversidades? Que estratégias se nos apresentam ao longo da ação da obra?
Síntese
Saramago, em Memorial do Convento, recorre a um momento da
Historia e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão sobre esses
acontecimentos, sobre o comportamento e o destino humano e sobre um mundo onde
há a magia do inexplicável.
Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado
de D. João V, no seculo 18, procurando uma ponte com as situações políticas de
meados do século 20.
Durante o reinado, o rigor e as perseguições do Santo Ofício
aumentam com vitimas que tanto podem ser cristãos novos como todos os
considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de
superstição.
Memorial do Convento caractireza uma época de escessos e
diferenças sociais, que se mantêm na atualidade: opulência/miséria –
poder/opressão – devassidão/penitência – sagrado/profano – amor ausente/amor
sincero.
Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça
personagens e acontecimentos veríficos com seres conseguidos pela ficção.
Romance histórico, Memorial do Convento oferece-nos uma
minunciosa descrição da sociedade portuguesa do inicio do século 18. Romance
social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em
que sobressai o operariado oprimido. Romance de intervenção, visa denunciar a
história repressiva portuguesa da primeira metade do século 20. Romance de
espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o
ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor
conhecimento do ser humano.
Em Memorial do Convento, há duas linhas condutoras da acção:
a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltasar e Blimunda.
A ação principal é a construção do convento de Mafra, que
entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofirmento do povo.
Pararelamente à acção principal, encontra-se uma acção que
envolve Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas, numa história de
espiritualidade, ternumar, misticismo e magia.
As duas acções, que se encaixam, sugerem uma profunda
humanidade trágica.
Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e
Mafra
A reconstituição da História passa pela ficção, revelando um
aparente desprezo do tempo.
Em Memorial do Convento o romance histórico convive e
entretece-se com o universo mágico criado pela ficção.
As personagens servem a própria intenção do autor na
necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma
nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.
As personagens femininas adquirem, na obra, um claro relevo:
D. Maria Ana é uma rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de
aparência e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é
a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito
própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.
Saramago reijeita a omnipotência do narrador, na medida em
que considera que é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado
que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do
narrador é pura ficção.
Uma voz narrativa controla a acção narrada, as motivações e
os pensamentos das personagens, mas faz tambem as suas reflexoes e juizos
valorativos.
A História, em Memorial do Convento, torna-se matéria
simbólico para refletir sobre o presente, na perspectiva da denúncia e dela
extrair uma moralidade que sirva de lição para o futuro.
Observando o Memorial do Convento, julgamos que a escrita
saramaguiana persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua
luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites.
Em Memorial do Convento há diversas vezes um discurso de
sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como descontronstroi as
situacoes, que dialoga com o narratario ou manuseia as personagens como
títeres, que domina os conhecimentos da História ou se sente limitado, que faz
ponderações ou ironiza.
Estrutura
A estrutura de Memorial de Convento apresenta duas linhas
condutoras da ação – construção do convento de Mafra e relações entre Baltasar
e Blimundam – que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na
História ou fantasiados.
Memorial do Convento está dividido em 25 partes, ou
capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecíveis (pelos
espaços que as separam)
Personagens
D Joao / Baltasar Sete Sois / Blimunda Sete Luas / Padre
Bartolomeu Lourenco / O Povo
MOMENTOS – capítulos
1 – Relação Rei/Rainha e a promessa da construção do
convento em Mafra
2 – Os milagres conseguidos pelos fanciscanos e o seu desejo
na construção do convento
3 – A situação socioeconomica: excesso de riqueza/extrema
pobreza
4 – Baltasar Sete-Sois regressa da guerra maneta
5 – O auto de fé no Rossio e o conhecimento travado entre
Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu
6 – O padre Bartolomeu e a máquina voadora
7 – Nascimento da vinha de D João, Maria Barbara
8 – Os poderes de Blimunda em ver dentro dos corpos
Nascimento
do segundi filho de D. João V, o infante D. Pedro
Escolha
do alto da Vela em Mafra para edificar o convento
9 – O Padre Bartolomeu Lourenco parte para a Holanda,
enquanto Sete-Sois regressa a Mafra, a casa dos pais, acompanhado de Blimunda
10 – Nascimento do infante D. José, terceiro filho da Rainha
Doença
do rei, enquanto o seu irmão D. Francisco tenta a cunhada, revelando â rainha o
interesse em tornar-se seu marido
11 – Regresso do padre Bartolomeu, que deseja que Blimunda
consiga armazenar éter composto de “vontades”
12 – Inauguração da primeira pedra do convento, a 17 de
novembro de 1717
14 – O musico Scarlatti, napolitano de 35 anos, que ensina a
infanta D. Maria Barbara, toma conhecimento do projecto da passarola
15 – A epidemia da cólera e da frebre amarela e a recolha
das “vontades” por Blimunda
16 – A concretização da viagem da passarola voadora, com o
padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda
17 – O regresso de Baltasar com Blimunda a Mafra, onde
começa a trabalhar nas obras do convento, e anúncio da morte do padre
Bartolomeu em Toledo
18 – Caracterização dos gastots reais e dos trabalhores em
Mafra
19 – Baltasar torna-se boieiro e participa no carregamento
da pedra do altar verificando-se, durante o transporte, o esmagamento de 1
trabalhador
21 – Decisão de D. João V de que a sagração do convento se
fará em 22 de outubro de 1730, data do seu aniversário
22 – Casamentos da infanta Maria Barbara com o principe
Fernando VI de Espanha e do principe D jose com a infanta espanhola Mariana
Vitoria
23 – Baltasar vai ao Monte Junto e desaparece com a
passarola
24 – Blimunda procura Baltasar, enquanto em Mafra se faz a
sagração do convento, em 22 de Outrubro de 1730
25 – Durante nove anos Blimunda procura Baltasar e vai
encontra-lo em Lisboa a ser queimado num auto de fé
A religião
Nada instruído ou
informado, o povo português facilmente se deixa manipular pela Igreja, pelos
seus mandamentos anacrónicos e muito afastados dos princípios defendidos por
Jesus Cristo. O próprio rei e demais elementos da corte se incluem nesta
categoria, pois pactuam com todos os desejos e interesses da Igreja que ninguém
ousa sequer contestar ou interrogar, sob risco de ser acusado de blasfémia ou
heresia.
A religião era, na época, um verdadeiro ópio
popular, a forma sagaz, inteligente e inebrante de que a igreja dispunha para
manter a ordem e os seus grandes lucros. O povo, miserável e analfabeto, vivia
continuamente na esperança de um qualquer milagre. É, na ignorância, um povo
feliz que «desce à rua para ver desfilar a nobreza toda» para ver chegar o
cardeal D. Nuno da Cunha, esquecendo que são estes os responsáveis pela sua
desgraça.
Personagem colectiva e anónima, consubstancia-se
nos vários populares que reflectem a miséria encardida, as péssimas condições
de subsistência, a ignorância e a exploração de que são vítimas. E, no entanto,
«este povo habituou-se a viver com pouco.» e não é capaz de evidenciar uma
atitude crítica, nem de assumir uma postura reivindicativa ou de revolta, de
tal forma vive embriagado com os dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou
pensamentos que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé,
encarados também como diversão, tal como as touradas.
Com esta consciência, a Igreja sabe tirar partido
da sua posição de superioridade e da influência que exerce, funcionando
simultaneamente como entretenimento e tribunal, alertando os mortais para os
perigos que correm caso não respeitem os mandamentos da santa Igreja. Mas não
faculta o exemplo, todos sabem que muitos membros do clero desrespeitam os
votos que fizeram, que os seus mais altos dignatários são a personificação da
vaidade, da luxúria, da gula, pecados com que se engana o povo, com o intuito
de o manter ignorante e mais facilmente manipulável.
Crítica à Igreja
Ponto alto da
sátira político-religiosa, o auto-de-fé ou
solene julgamento/execução do tribunal da
Inquisição, constitui ocasião e motivo singulares para uma ácida crítica comum, à rainha e ao povo.
À rainha, porque,
apesar do luto pela morte de seu irmão José, o Imperador da Áustria, e apesar
do seu estado, ela não deixaria de frequentar tão solene cerimónia, não fosse a
debilitação causada pelas sangrias a que foi submetida. (página 49).
Ao povo, porque sedento de
crueldade, oscila na sua preferência entre o auto-de-fé e as touradas (página
50).
O povo, néscio e atrasado, caracterizado por
uma grande e indesmentível acefalia religiosa, participa com o mesmo entusiasmo
nos autos-de-fé e em novenas e romarias para que a rainha dê ao reino um
herdeiro.
A
Igreja promove e fomenta, igualmente, as discrepâncias sociais:
«desinteressa-se Deus ... mais os irmãos» (página 109).
O Santo Ofício é continuamente alvo de crítica: «Dos julgamentos do
Santo Ofício não se fala aqui.. bocas.» (página 195).
Estamos, pois,
em presença de uma crítica mordaz a este modo bem particular de
praticar a religião. O poder da Igreja é tanto que consegue ludibriar o povo,
embriagá-lo com o fervor religioso e criando-lhe a noção de um Deus
omnipresente, nada benevolente ou pacificador, mas castigador. Este poder é
exercido com grande demagogia, com consciência de que a religião, de acordo com
determinadas regras e preceitos, pode constituir o ópio do povo. Demagógica
será, portanto, a procissão de graças por o Espírito Santo ter sobrevoado a
Vila de Mafra e a crença de que todos os trabalhadores do convento contribuem
para a glória de Deus.
Conceitos
Justiça – Tanto para uns e tão pouco para outros
Dever – Rei e Rainha têm um dever (herditariedade)
Sacrifício – O povo tem sacrificio, tal como o Rei e a Rainha
Relações Sociais – Nobreza e Clero dominam o
povo
Sombra –
No que diz respeito à
presença actuante e poderosa da cor negra350, metáfora da
sombra e da morte, ela
está bem patente na crítica que o narrador dirige aos
procedimentos
inquisitoriais que condenam ao cárcere, ao degredo e à fogueira:
a tarde desce
depressa, mas o calor sufoca ainda, o sol de garrote, sobre o
Rossio caem as grandes
sombras do convento do Carmo, as mulheres mortas
são descidas sobre os
tições para se acabarem de consumir, e quando já for
noite serão as cinzas
espalhadas, nem o Juízo Final as saberá juntar, e as
pessoas voltarão às suas
casas, refeitas na fé, levando agarrada à sola dos
sapatos alguma
fuligem, pegajosa poeira de carnes negras, sangue acaso
viscoso se nas brasas
não se evaporou (p. 54)
nas touradas, e também
nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna
mais fechadas as
nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais
negras, é como na
guerra, treva geral no interior dos homens (p. 146,
destacados nossos).
O tom negro e sombrio
é igualmente visível quando o narrador se refere aos
sofrimentos que Mafra representa:
«O sol já se pôs, Mafra, em baixo é escura como um
poço» (p. 111), e «Em
baixo, distingue-se confusamente o traçado dos caboucos, negro
sobre sombra, há-de
ser ali a basílica» (p. 125, destacados nossos).
No sentido de ilustrar
a presença de notações visuais e efeitos de luz, deve-se, por
outro lado, lembrar o
momento em que se ergue a alegoria do voo, representada pelos
movimentos da sombra
da passarola nas paredes da abegoaria, numa espécie de
antecipação da
elevação:
350 Para se conhecer a
simbologia das cores, sobretudo da cor negra, sugere-se a leitura do artigo “Da
Excelência das cores”,
HATHERLY, Ana, in O Ladrão Cristalino. Aspectos do imaginário barroco, ed.
cit., pp. 335-347.
131Fez-se noite (…)
Duas candeias mal alumiavam a abegoaria. Nos recantos a
escuridão parecia
enovelar-se, avançando e recuando consoante as oscilações
das pequenas e pálidas
luzes. A sombra da passarola movia-se sobre a parede
branca. Estava quente
a noite. Pela porta aberta acima do telhado do palácio
fronteiro, viam-se
estrelas no céu já côncavo (p. 173).
Acresce ainda a
presença da cor negra e a associação homem/formiga a convocar
a alegoria da morte e
a colocar a tónica nas crueldades a que são sujeitos os
trabalhadores do
convento de Mafra: «e depois vem outro homem que transportará a
carga até à próxima
formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no
caso das formigas
lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte»
Tópicos de opinião
·
Relação do conteúdo da obra ao mundo actual
·
A missão de Saramago para os leitores
·
A liberdade época da obra & a liberdade
actual no Mundo
·
Relação da ideia de esquecimentos da obra a
fenómenos da mesma espécie no Mundo actual
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