Eu
apresentei o poema Há metafísica bastante em não pensar em nada de Alberto Caiero, mas antes disso falei um
pouco sobre este heterónimo.
Ele é
considerado o mestre dos heterónimos pelo próprio ortónimo, Fernando Pessoa.
Isto acontece pois, devido à sua forma encarar o mundo, ele consegue viver sem
dor e não envelhece em angústia, dado que não procura encontrar o sentido para
a vida.
Alberto
Caeiro é extremamente objectivo, por isso vê as coisas como elas são,
eliminando todos os vestigíos de subjectividade, daí que ele escreva de forma
simples, concreta e directa, mas que, ainda assim, é complexa do ponto de vista
reflexivo.
1ª Estrofe
“Não pensar
em nada”? O que é? Podemos comparar com as frases: “fui à loja e não comprei
nada” ou “tu não jogas nada”. Segundo essa lógica “não pensar em nada” é o
mesmo que não pensar. Porém, a meu ver, comprar e jogar não está no mesmo
domínio que pensar daí que “pensar em nada” seja não pensar e por conseguinte “não
pensar em nada” é pensar em alguma coisa, é pensar nas coisas e na sua
essência. Por outro lado temos a metafísica, que é o domínio da filosofia que
se ocupa com as questões do ser e do existir. Então pensar nas coisas é pensar
na sua metafísica, o que para o poeta não faz sentido e é isso que vamos
entender ao longo do poema.
2ª Estrofe
O poeta não
dá importância à metafísica, por isso não pensa neste tipo de questões. Mas
depois diz que, “se eu adoecesse, pensaria nisso”. Ora a explicação que eu
encontrei para isto foi a seguinte: Nós quando estamos doentes não estamos bem,
nós estamos em nós, não somos os mesmos. Resumindo estar doente não é normal.
Logo só numa situação destas é que o poeta, iria de certa forma contra os seus
princípios e pensaria neste tipo de questões, que não é uma coisa normal. Só
numa situação anormal é que ele pensaria, pois pensar também é anormal.
3ª Estrofe
Nesta
estrofe começa-se por fazer algumas questões no âmbito da metafísica, mas
depois diz-se que, pensar nessas coisas não é penar, “… é fechar os olhos…”.
Alberto Caeiro dava grande importância aos sentido, especilamente o da visão,
pois para ele as coisas são aquilo que são, são aquilo que vemos.
“É correr
as cortinas / da minha janela (mas ela não tem cortinas)”. Ora se uma janela
não tem cortinas é porque já se consegue ver o que é suposto ver dessa tal
janela logo correr cortinas de uma janela que não as tem, é fazer nada e pensar
em questões da metafísica é fazer nada.
4ª Estrofe
Para o
poeta, as coisas não têm mistério, o mistério está no facto de as pessoas
pensarem nisso, isto porque, para ele não faz sentido que as pessoas pensem no
mistério das coisas, pois aos seus olhos não há.
Depois
dá-se o exemplo de que quem está ao sol e fecha os olhos, pode pensar muitas
coisas em relação ao sol, mas quando volta a abrir os olhos esses pensamentos
deixam de ter valor pois o sol continua igual, no mesmo sítio, a transmitir
luz.
5ª Estrofe
Esta é uma
estrofe que achei bastante engraçada. Começa por falar-nos da metafísica das
árvores, o que, tal como é dito não nos faz pensar muito, elas são verdes,
copadas, têm ramos, dão fruto pouco mais.
Depois
faz-se um pergunta que é o motivo pelo qual gostei desta estrofe, “Mas que
melhor metafísica que a delas, / Que é a de não saber para que vivem / Nem
saber que o não sabem?”. Na minha opinião, é um pergunta retórica ou pelo menos
não exige uma resposta, mas tem como objectivo fazer-nos pensar e o que eu
intepreto dela é o seguinte: Sorte a das árvores que têm uma metafísica baseada
em não para que vivem e ao mesmo tempo não saberem disso, ou seja, o poeta
valoriza o facto de as árvores não pensarem na metafísica, pois ele também
preferia viver num mundo sem ouvir falar desse tipo de questões. Podemos
comparar as árvores com Alberto Caeiro, pois elas não pensam e ele também não,
embora ele tenha a capacidade de conceber o acto de pensamento.
6ª Estrofe
Voltão a
ser apresentadas algumas questões no âmbito da metafísica e são classificadas
como falsas, bem como toda a metafísica, pois essas coisas não existem de
acordo com o que é dito no poema. Para o poeta é mesmo incrível que haja
pessoas que pensem nessas coisas.
7ª Estrofe
Pensar em
questões da metafísica é fazer algo mais daquilo que há para fazer, é algo
desnecessário e que não tem razão de ser e isto é explicado na estrofe
seguinte.
8ª Estrofe
Não há
motivos para pensar no sentido íntimo das coisas pois elas não têm sentido
íntimo. Não há razão para pensar em questões metafísicas, na constituição
íntima das coisas, no sentido íntimo das coisas, no mistério das coisas pois
elas não existem. As coisas são objectivas, são aquilo que vemos.
9ª Estrofe
É feito uma
crítica à relegião monoteísta, que é estremamente simples, mas que ao mesmo
tempo, faz todo sentido. Eu pelo menos concordo, pois se de facto houvesse um
Deus, um ser tão perfeito, de certeza que eles nos daria algum sinal que nos
permitisses ter a certeza de que existe.
10ª Estrofe
Quem
acredita em Deus, na relegião ou pensa no tipo de coisas que se tem tratado ao
longo deste poema, como as diversas questões da metafísica, provavelmente acha
rídiculo o que o poeta disse na estrofe anterior, mas ele também diz que essas
pessoas não sabem olhar para as coisas como elas são, simples e objectivas.
11ª Estrofe
Nesta
estrofe é possível identificar uma característica de Alberto Caeira mencionada,
por exemplo, nas Notas para a recordadação do meu mestre Caeiro:
“O meu
mestre Caeiro não era um pagão: era o paganismo. O Ricardo Reis é um pagão, o
António Mora é um pagão, eu sou um pagão; o próprio Fernando Pessoa seria um
pagão, se não fosse um novelo embrulhado para o lado de dentro. Mas o Ricardo
Reis é um pagão por carácter, o António Mora é um pagão por inteligência, eu
sou um pagão por revolta, isto é, por temperamento. Em Caeiro não havia
explicação para o paganismo; havia consubstanciação.” Ele tinha uma relação
íntima com o paganismo.
Para
começar a explicar, paganismo é designação dada pelos cristão à religião
politeísta, isto é, que acredita em vários deuses. É possível identificar essa
característica nesta estrofe pois uma das características do paganismo é a radical
imanência divina, ou seja a divindade está sempre prensente, até na própria
natureza.
12ª Estrofe
Então mas
se Deus é as árvores, as flores e todas essas coisas não há necessidade de lhe
chamar Deus.
13ª Estrofe
E
finalmente vem esta última estrofe a dizer que devemos viver naturalmente sem
pensar em Deus pois ele é tudo o que está à nossa volta.
Agora em
jeito de conclusão e de certa forma para resumir este poema…
Começa-se
por dizer que não devemos pensar em questões da metafísica, pois as coisas são
aquilo que são, são simples e objectivo, são aquilo que vemos e a coisa fica
mais ou menos por aí.
Depois
entra-se no domínio da relegião, em que se começa por criticar, dezendo que não
se acredita em Deus, mas no final, sendo Alberto Caeiro o pagão que é, então o
sujeito poético chega à conclusão de que Deus está em tudo à nossa volta, mas
isto sempre de forma objectiva, pois está naquilo que vemos e não há
necessidade de pensar mais no assunto.
Mark Vaz nº17 12ºD