terça-feira, 5 de março de 2013

Apresentação oral: Há metafísica bastante em não pensar em nada

            Eu apresentei o poema Há metafísica bastante em não pensar em nada  de Alberto Caiero, mas antes disso falei um pouco sobre este heterónimo.
            Ele é considerado o mestre dos heterónimos pelo próprio ortónimo, Fernando Pessoa. Isto acontece pois, devido à sua forma encarar o mundo, ele consegue viver sem dor e não envelhece em angústia, dado que não procura encontrar o sentido para a vida.
            Alberto Caeiro é extremamente objectivo, por isso vê as coisas como elas são, eliminando todos os vestigíos de subjectividade, daí que ele escreva de forma simples, concreta e directa, mas que, ainda assim, é complexa do ponto de vista reflexivo.
 
1ª Estrofe
            “Não pensar em nada”? O que é? Podemos comparar com as frases: “fui à loja e não comprei nada” ou “tu não jogas nada”. Segundo essa lógica “não pensar em nada” é o mesmo que não pensar. Porém, a meu ver, comprar e jogar não está no mesmo domínio que pensar daí que “pensar em nada” seja não pensar e por conseguinte “não pensar em nada” é pensar em alguma coisa, é pensar nas coisas e na sua essência. Por outro lado temos a metafísica, que é o domínio da filosofia que se ocupa com as questões do ser e do existir. Então pensar nas coisas é pensar na sua metafísica, o que para o poeta não faz sentido e é isso que vamos entender ao longo do poema.
 
2ª Estrofe
            O poeta não dá importância à metafísica, por isso não pensa neste tipo de questões. Mas depois diz que, “se eu adoecesse, pensaria nisso”. Ora a explicação que eu encontrei para isto foi a seguinte: Nós quando estamos doentes não estamos bem, nós estamos em nós, não somos os mesmos. Resumindo estar doente não é normal. Logo só numa situação destas é que o poeta, iria de certa forma contra os seus princípios e pensaria neste tipo de questões, que não é uma coisa normal. Só numa situação anormal é que ele pensaria, pois pensar também é anormal.
           
3ª Estrofe
            Nesta estrofe começa-se por fazer algumas questões no âmbito da metafísica, mas depois diz-se que, pensar nessas coisas não é penar, “… é fechar os olhos…”. Alberto Caeiro dava grande importância aos sentido, especilamente o da visão, pois para ele as coisas são aquilo que são, são aquilo que vemos.
            “É correr as cortinas / da minha janela (mas ela não tem cortinas)”. Ora se uma janela não tem cortinas é porque já se consegue ver o que é suposto ver dessa tal janela logo correr cortinas de uma janela que não as tem, é fazer nada e pensar em questões da metafísica é fazer nada.
 
4ª Estrofe
            Para o poeta, as coisas não têm mistério, o mistério está no facto de as pessoas pensarem nisso, isto porque, para ele não faz sentido que as pessoas pensem no mistério das coisas, pois aos seus olhos não há.
            Depois dá-se o exemplo de que quem está ao sol e fecha os olhos, pode pensar muitas coisas em relação ao sol, mas quando volta a abrir os olhos esses pensamentos deixam de ter valor pois o sol continua igual, no mesmo sítio, a transmitir luz.
 
5ª Estrofe
            Esta é uma estrofe que achei bastante engraçada. Começa por falar-nos da metafísica das árvores, o que, tal como é dito não nos faz pensar muito, elas são verdes, copadas, têm ramos, dão fruto pouco mais.
            Depois faz-se um pergunta que é o motivo pelo qual gostei desta estrofe, “Mas que melhor metafísica que a delas, / Que é a de não saber para que vivem / Nem saber que o não sabem?”. Na minha opinião, é um pergunta retórica ou pelo menos não exige uma resposta, mas tem como objectivo fazer-nos pensar e o que eu intepreto dela é o seguinte: Sorte a das árvores que têm uma metafísica baseada em não para que vivem e ao mesmo tempo não saberem disso, ou seja, o poeta valoriza o facto de as árvores não pensarem na metafísica, pois ele também preferia viver num mundo sem ouvir falar desse tipo de questões. Podemos comparar as árvores com Alberto Caeiro, pois elas não pensam e ele também não, embora ele tenha a capacidade de conceber o acto de pensamento.
 
6ª Estrofe
            Voltão a ser apresentadas algumas questões no âmbito da metafísica e são classificadas como falsas, bem como toda a metafísica, pois essas coisas não existem de acordo com o que é dito no poema. Para o poeta é mesmo incrível que haja pessoas que pensem nessas coisas.
 
7ª Estrofe
            Pensar em questões da metafísica é fazer algo mais daquilo que há para fazer, é algo desnecessário e que não tem razão de ser e isto é explicado na estrofe seguinte.
 
8ª Estrofe
            Não há motivos para pensar no sentido íntimo das coisas pois elas não têm sentido íntimo. Não há razão para pensar em questões metafísicas, na constituição íntima das coisas, no sentido íntimo das coisas, no mistério das coisas pois elas não existem. As coisas são objectivas, são aquilo que vemos.
 
9ª Estrofe
            É feito uma crítica à relegião monoteísta, que é estremamente simples, mas que ao mesmo tempo, faz todo sentido. Eu pelo menos concordo, pois se de facto houvesse um Deus, um ser tão perfeito, de certeza que eles nos daria algum sinal que nos permitisses ter a certeza de que existe.
 
10ª Estrofe
            Quem acredita em Deus, na relegião ou pensa no tipo de coisas que se tem tratado ao longo deste poema, como as diversas questões da metafísica, provavelmente acha rídiculo o que o poeta disse na estrofe anterior, mas ele também diz que essas pessoas não sabem olhar para as coisas como elas são, simples e objectivas.
 
11ª Estrofe
            Nesta estrofe é possível identificar uma característica de Alberto Caeira mencionada, por exemplo, nas Notas para a recordadação do meu mestre Caeiro:
            “O meu mestre Caeiro não era um pagão: era o paganismo. O Ricardo Reis é um pagão, o António Mora é um pagão, eu sou um pagão; o próprio Fernando Pessoa seria um pagão, se não fosse um novelo embrulhado para o lado de dentro. Mas o Ricardo Reis é um pagão por carácter, o António Mora é um pagão por inteligência, eu sou um pagão por revolta, isto é, por temperamento. Em Caeiro não havia explicação para o paganismo; havia consubstanciação.” Ele tinha uma relação íntima com o paganismo.
            Para começar a explicar, paganismo é designação dada pelos cristão à religião politeísta, isto é, que acredita em vários deuses. É possível identificar essa característica nesta estrofe pois uma das características do paganismo é a radical imanência divina, ou seja a divindade está sempre prensente, até na própria natureza.
 
12ª Estrofe
            Então mas se Deus é as árvores, as flores e todas essas coisas não há necessidade de lhe chamar Deus.
 
13ª Estrofe
            E finalmente vem esta última estrofe a dizer que devemos viver naturalmente sem pensar em Deus pois ele é tudo o que está à nossa volta.
 
            Agora em jeito de conclusão e de certa forma para resumir este poema…
            Começa-se por dizer que não devemos pensar em questões da metafísica, pois as coisas são aquilo que são, são simples e objectivo, são aquilo que vemos e a coisa fica mais ou menos por aí.
            Depois entra-se no domínio da relegião, em que se começa por criticar, dezendo que não se acredita em Deus, mas no final, sendo Alberto Caeiro o pagão que é, então o sujeito poético chega à conclusão de que Deus está em tudo à nossa volta, mas isto sempre de forma objectiva, pois está naquilo que vemos e não há necessidade de pensar mais no assunto.
 
Mark Vaz nº17 12ºD

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