sábado, 9 de março de 2013


Pauis
O título deste poema mostra a forma como pessoa se sentia, pauis significa pântano e Fernando pessoa assimilou-o a ambientes de sombrios, parados.
O poema que eu vou apresentar faz parte da obra ortónima de Fernando Pessoa. Ou seja é um poema assinado pelo seu próprio nome. Esta obra é de grande valia embora seja bastantes vezes ofuscada pela dos seus heterónimos.
Os temas da obra ortónima e que se podem verificar neste poema são, a identidade perdida, a consciência do absurdo da consciência, dor de viver etc.. Pessoa ortónimo é por isso marcado por uma tristeza, uma falta de energia. Existe um sentimento em pessoa de tédio e leveza.
Pauis no primeiro verso significam estagnação de espirito.
Existe uma ideia vaga da tristeza provocada por uma estagnação talvez da alma ou de espirito. Podemos verificar isso através das frases no poema.
Existe uma ansiedade pelo que não se tem, o distante, o inatingível sugerido por verbos ligados á ideia de vontade.
Há neste poema um conjunto de palavras e expressões que se situam no âmbito de um campo semântico revelador de dois sentimentos do poeta: "paúis" (paúl é um pântano de água estagnada), "ânsias", "empalidece, "corre um frio carnal por minh'alma", "estagnado", "grito de ânsia", "pasmo de mim", "desfalecer", "oco", "dia chão" (dia chato), "sentinela hirta", "silêncios futuros". Tudo isto aponta "para qualquer coisa de estático, projecção focada sobre qualquer coisa de opressivo" (Maria Aliete Galhoz). Mas aponta sobretudo para o poeta que se sente sufocado, oprimido (frio carnal na minh'alma, pasmo de mim, o meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer) e sentindo ainda o desejo de se libertar, embora já frustrado, (grito de ânsia, estendo as mãos para além, mas ao estendê-las já vejo que não é aquilo que desejo...). O poeta chega à conclusão de que não pode sair do círculo apertado onde se meteu. Por isso, limita-se a olhar ansiosamente os horizontes distantes e, mesmo estes, com limites de ferro: Trepadeiras lambendo os Aléns, silêncios futuros, longes trens, portões vistos de longe... tão de ferro!
São evidentes no poema as influências de Decadentismo-Simbolismo.

"Hora" está aqui como personificação do tempo presente, do aflitivo tempo do poeta, como se fosse uma prisão.
O poeta sente-se encarcerado no presente, que o mesmo é dizer, prisioneiro de si próprio. "Tão sempre a mesma hora" é, afinal, equivalente a: sempre esta minha angústia!... Quando o poeta afirma que "a Hora expulsa de si tempo", quer dizer que o tempo vai passando; mas acrescenta logo que isso é apenas "onda de recuo que invade o seu abandonar-se a si próprio até desfalecer". Isto é, o tempo passa, mas a situação angustiosa do poeta (a Hora) permanece. Por isso, "um mudo grito de ânsia põe garras na Hora" (na angústia presente do poeta).
O passado, o futuro, o presente, estão bem marcados no poema. Referem-se ao passado: "dobre longínquo de outros Sinos", "Ó tão antiguidade", "onda de recuo que invade o meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer".
Esta última expressão leva-nos à conclusão de que as memórias do passado servem ainda para alimentar a angústia do presente. Referem-se ao futuro: "Estendo as mãos para além", "Trepadeiras de despropósito lambendo de Hora os Aléns", "...silêncios futuros...", "Longes trens...", "Portões vistos de longe... tão de ferro!" também este olhar para o futuro não suaviza o presente do poeta. Antes, é o presente que proteja a angústia para o futuro que surge como inatingível (portões vistos de longe... tão de ferro!). De notar como aqui o espaço se identifica com o tempo: o poeta sente-se prisioneiro do espaço e do tempo.
O fulcro da angústia situa-se no presente, na Hora. É verdade que o presente, como se viu atrás, lança, por vezes, tentáculos para o passado e para o futuro. Mas esses tentáculos logo se recolhem ao presente carregados de desilusões. Vemos agora mais claramente a razão da maiúscula de Hora: esta é o presente que sintetiza o passado e o futuro, é o poeta no seu cárcere invisível.
Note-se que uma das razões da angústia do poeta é uma espécie de desintegração da personalidade, sensação essa que daria origem à criação dos heterónimos, ao seu "drama em gente": O mistério sabe-me a eu ser outro...

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