domingo, 25 de novembro de 2012

A Mensagem, Antemanhã & Nevoeiro - Apresentação Oral

Antemanhã

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: "Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?

E o som na treva de ele rodar

Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou-se e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar -
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar

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No que conta a uma análise estilística do poema, são possíveis de concluir os seguintes aspectos:

Métrica - 2 Sétimas  Versos Octossilábicos, com excepção do primeiro e quinto verso da primeira estrofe que são decassilábicos.

Esquema Rímico - Rime em esquema "aabaaca"

Número de versos - 14

Notas: Uso abundante de terminações em "ar", uso de metáforas e duplicações sonoras.

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"Antemanhã" é o alvorecer, o tempo em que o dia está a surgir em alvorada. Este poema é o equivalente da Europa, o quarto Império Intelectual. Depois da "Noite", a alma decide em "Tormenta" sair do estado em que se encontra, o que a leva à "Calma" resultante da sua decisão. Agora segue-se o nascer do Novo Dia, numa "Antemanhã" que levará a um futuro ainda desconhecido.

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No que conta a uma análise contextual da primeira estrofe, é possível identificar que:

Fernando pessoa resgata uma figura simbólica para servir de interpelador de quem procura o Encoberto.

Aqui, o mostrengo é diferente de quando no poema "O Mostrengo" (segunda parte, "Mar Português"). É actualmente mais humano, rendendo-se ao simbolismo, parecendo menos vivo, irreal, despido de sentimento e iluminado por uma outra luz. Numa relação a Os Lusíadas, conclui-se que lá, é o Adamastor que se transforma em cabo, sendo que aqui ocorre o contrário, sendo o cabo (realidade) que se transfigura numa essência (irrealidade)

Foi um relâmpago de Deus que iniciou este "novo dia sem acabar". "Um novo dia" significa uma nova era e um novo princípio. Neste momento, o mostrengo fala e avisa, ao contrário das suas acções anteriormente. Aqui, tem uma atitude motivadora, e não assustadora, criando um caminho limpo e mais fácil, não obstáculos ao mesmo.

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo que encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma te,
Nem o que é o mal nem o que é o bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

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Numa análise estilística do poema, é possível concluir os seguintes aspectos.

Métrica - 1 Sextilha, 1 Sétima e 1 verso isolado. Versos octossilábicos, com excepção do verso isolado que tem apenas 3 sílabas.

Esquema rímico - Rima em esquemas "ababba" e "abbcddd" respectivamente. O verso isolado rima com o quarto verso da sétima.

Número de versos - 14

Notas - Uso de metáforas, uso de negatividade, divisão do poema em duas partes (colectiva e individual, respectivamente), uso de anáforas e antíteses.

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Fernando Pessoa termina A Mensagem com o poema "Nevoeiro", quinto poema dos "Tempos". 

Este poema é aquele que representa o Quinto Império, o Império Espiritual. Aqui, define-se a actualidade portuguesa como decadência, dispersão e névoa (fazendo lembrar a camoniana <austera, apagada e vil tristeza>).

Coerente, como sempre, Pessoa fecha a mensagem seguindo uma vontade inicial na obra. Deixa a sensação de todo, de projecto global, que é dividido em partes, mas sem que essas partes só existam quando ligadas entre si.

"Nevoeiro" é assim um poema velado, triste e imperativo, como o próprio Fernando Pessoa. Aqui, não se assiste a uma invocação linear e comum do passado. É um poema de conclusão, que eleva a tristeza, um sentido de missão, bem como uma ponte para o futuro, para uma hora marcada para o nascer do Novo Sol, a fim de destruir "O Nevoeiro".

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Numa análise contextual da primeira estrofe, é de importante referência:

Numa análise microscópica caracteriza-se o momento do país. Nota-se desespero, face a um país em alma, sem originalidade, que nenhum governante, nenhuma mudança pela força, o poderá regenerar verdadeiramente. Continuará então a ser o "fulgor baço da terra", um "Portugal a entristecer".

Pessoa depara-se com o facto de haver um brilho exterior, ou seja, uma vida existente na parte de fora de todos os indivíduos, ou seja, vê que há quem enriqueça, quem tenha família, quem procrie, e quem morra. Mas toda a vida sem sentido é como "brilho sem luz e sem arder". É mais ainda, é pior, é "como o que o fogo-fátuo que encerra" ou seja, é a aparência do brilho, mas sem luz interior, sem esse mesmo brilho, interiormente. Quem vive assim não vive, sobrevive somente. Apresenta então um brilho que se assemelha aquele que sai dos cemitérios, dos pântanos, um brilho artificial e podre, apagado, próprio dos corpos mortos e decompostos.

Fernando Pessoa intenciona pintar um quadro intemporal que caracterize o português, onde quer que queiramos apontar na barra cronológica assistente à nossa existência. Um povo que se queixa sempre do mesmo, num ciclo vicioso e cansativo, sem fim a vista, seja como for. 

Analisando contextualmente a segunda estrofe, são relevantes os seguintes tópicos:

Depois de ver o "Nevoeiro" como um todo, depara-mo-nos agora com análises particulares.

Portugal é então um país perdido, onde "ninguém sabe que coisa quere", onde "ninguém conhece que alma tem" sem noção nem do que "é o mal nem o que é bem". Portugal assiste uma sociedade amoral, desligada dos mais altos valores, da nacionalidade, do espírito de unidade religiosa, sobretudo da irmandade, havendo no entanto uma esperança ténue que reside no intimo de cada um, encaminhando e florindo um desejo de mudança.

Mas tudo é tão "incerto e derradeiro", "dispersos". "Nada é inteiro" que Fernando Pessoa termina com um desabafo "Ó Portugal, hoje és nevoeiro..."

Numa análise à terceira e última curta estrofe, nota-se que:

Depois de duas estrofes mortas, Fernando Pessoa grita de peito cheio de ar, ao infinito: "É a Hora!" (Resposta à pergunta deixada na segunda estrofe do poema "sem título" em os "Avisos").

Não se deduz se esta hora será humana ou divina, mas será certamente uma hora certa e inevitável.

Com esta frase final, Fernando Pessoa desvanece-se, tal como o "mostrengo servo", deixando a cada um de nós a tarefa de revelar em nós mesmos os mistérios que ele nos tem vindo a anunciar. A mensagem da Mensagem é então procurar no íntimo a razão que ilumina a vida que vale a pena ser vivida, sendo assim uma tradução a um final que se caracteriza e a nós se apresenta como optimista e positiva.

Um "Adeus" sincero como um forte aperto de mão e um fiel e firme abraço.






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