D. Sebastião
|
Qual a Sorte
a não dá.
Não coube em
mim minha certeza;
Por isso
onde o areal está
Ficou meu
ser que houve, não o que há.
Minha
loucura, outros que me a tomem
Com o que
nela ia.
Sem a
loucura que é o homem
Mais que a
besta sadia,
Cadáver
adiado que procria?
Trata-se de um poema da primeira parte – o Brasão.
Nesta primeira parte da obra aborda-se
a origem, e a fundação de Portugal enquanto império.
O título D. Sebastião remete-nos
para um momento importante da nação assumindo D. Sebastião um papel importante
na tomada de decisão de avançar para a conquista de África.
O poema poderá dividir-se em duas partes: a primeira
correspondendo à primeira estrofe e a segunda parte à segunda estrofe.
Na
primeira o sujeito poético faz uma auto-caracterização como “louco”; na segunda
faz uma apologia da loucura, um elogio, apelando a que outros dêem
continuidade ao seu sonho.
Na primeira estrofe o sujeito lírico encontra a base da
loucura na grandeza (o sonho) que o sujeito lírico
assume com orgulho. Em consequência dessa loucura, o herói encontrou a morte em
Alcácer Quibir.
Apesar disto a loucura tem neste poema uma
conotação positiva, já que se liga ao desejo de grandeza, à capacidade
realizadora, sem a qual o homem não passa de um animal. Veja-se ainda na
primeira estrofe a referência ao ser histórico “ ser que houve”, que ficou na
batalha de Alcácer Quibir, onde encontrou a destruição física, e a distinção
deste com o ser mítico “ não o que há”, que sobreviveu pois é imortal. Este perdura na memória
colectiva como exemplo.
Na segunda parte, o sujeito poético lança um desafio aos
destinatários, fazendo um apelo à loucura e à valorização do sonho. Deve
portanto dar-se asas à loucura como força motora da acção. Trata-se de um apelo
de alcance nacional e universal. Este mesmo elogio será repetido várias vezes
ao longo da obra. O desafio permite aos destinatários considerarem a grandeza do rei suficiente para todos. Sem ideal cai-se no viver materialista. A
interrogação retórica com que termina o poema aponta precisamente para a
loucura como força criativa que poderá ser canalizada para a reconstrução
nacional. Sem o sonho, “a loucura”, o homem não se distingue do animal. É a
través do sonho que o homem é capaz de seguir em frente sem temer a própria
morte. Assim o homem deixará de ser um animal sadio ou reprodutor com a morte
adivinhada.
=============
=============
=============
Nun'Álvares Pereira
"Que auréola
te cerca?
É a espada
que, volteando,
Faz que o ar
alto perca
Seu azul
negro e brando.
Mas que
espada é que, erguida,
Faz esse
halo no céu?
É Excalibur,
a ungida,
Que o Rei
Artur te deu.
Esperança
consumada,
S. Portugal
em ser,
Ergue a luz
da tua espada
Para a
estrada se ver!"
No poema Fernando Pessoa refere uma auréola. A auréola que cerca Nuno
Álvares Pereira é, ao mesmo tempo, uma auréola de santidade (do guerreiro
tornado monge) e uma auréola de combate (“é a espada (…) volteando”). Quer ele
dizer que a santidade que ele alcançou, foi a custo também dos seus actos de
guerreiro, pois é a sua espada que desenha o círculo por cima da sua
cabeça, destacando-o – santo – do comum dos homens.
Conhecendo-se a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira - a
espada - na segunda estrofe, Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada. Diz-nos
que a espada “que, erguida / Faz esse halo no céu” não é uma espada qualquer,
não é a espada de um comum cavaleiro,mas “é Excalibur, a ungida”, a espada do
“Rei Artur”.
Pessoa pede a Nuno Alves Pereira, nos dois últimos versos, que
erga a luz da sua espada “para a estrada se ver”, para sabermos que caminho
seguir no futuro.
=============
=============
Bernardo Santos, Nº6, 12ºD
Sem comentários:
Enviar um comentário