quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe

“Os Sofrimentos do Jovem Werther”
de Johann Wolfgang von Goethe

          “Os Sofrimentos do Jovem Werther” é um romance trágico e confessional, de tom autobiográfico, escrito em forma epistolar, isto é, sob a forma de carta. Esta obra a história de um amor não correspondido. Foi lançado em 1774, tinha Goethe apenas 24 anos. Esta obra identifica, desde logo, o seu jovem autor como um dos grandes representantes do romantismo.

Resumo da Obra:
            Werther, um jovem da pequena burguesia, parte para longe da sua família e amigos e instala-se numa pequena cidade no norte da Alemanha. Parte motivado pela resolução de uma herança junto de uma tia que lá vive e a necessidade de isolamento devido à morte de uma rapariga a cujo amor não correspondeu. Inicialmente, como não conhece ninguém nem tem ocupações definidas, vai ocupando o seu tempo com longas caminhadas e desfrutando da natureza. Reconhece a realização da sua existência na natureza e na simplicidade da vida dos camponeses. Sente-se feliz. Certo dia, conhece Carlota, que está já comprometida com Alberto, e apaixona-se por ela. Dá início a uma série de visitas a casa de Carlota e constrói uma amizade com Alberto, noivo de Carlota. Carlota não dá esperanças a Werther e deixa ao tempo a função do esquecimento. Carlota tem por Werther uma enorme compaixão. Werther vive na angústia de não ver o seu amor correspondido. Aconselhado pelo seu amigo Guilherme, a quem endereçava as cartas, Werther viaja para longe de Carlota e emprega-se ao serviço de um embaixador. A desconsideração por parte do embaixador e uma grande insatisfação interior (nunca está bem onde está; aborrece-se dos sítios) levam-no a voltar para perto de Carlota, que só lá se sente bem. Uma sucessão de acontecimentos torna gradualmente insuportável a sua existência. A morte do filho mais novo da família de camponeses que costumava visitar, o assassinato de uma mulher por parte de um homem que por ela se tinha apaixonado e não via o seu amor correspondido, o encontro com um homem que tinha enlouquecido depois de também se ter apaixonado por Carlota e, por fim, o pedido de Carlota, pressionada por Alberto, para que Werther se afastasse dela, foram os ingredientes que levaram Werther a suicidar-se. Escreve uma carta de suicídio endereçada a Carlota. Vai vê-la pela última vez e arranca-lhe um beijo à força. Werther manda o seu criado a casa de Alberto, para lhe pedir a sua pistola. Já na posse da pistola, Werher fecha-se no quarto, senta-se à secretária, onde estava aberta a tragédia “Emília Galotti” de Lessing, e dispara contra a sua cabeça, sobre o olho direito.

Semelhanças entre a obra e a vida do autor:
            Muitos dos acontecimentos narrados ao longo da obra cruzam-se com o que realmente aconteceu a Goethe.
·       O jovem Goethe chega em 1772 a Wetzlar, uma pequena cidade no norte da Alemanha, para dar início à sua carreira de advogado. Ali conhece Christian Kestner, noivo de Charlotte Buff. Goethe apaixona-se por ela e começa a frequentar a sua casa. Ciente da impossibilidade deste amor, Goethe abandona a cidade, tal como Werther.
·       A ideia do suicídio advém da história de um homem que conheceu em Wetzlar, que se matou por causa de um amor não correspondido.
·       No início de 1774, Goethe apaixona-se por uma mulher casada, em Frankfurt, e dá início a uma série de visitas a sua casa. Ao saber disto, o marido proíbe-o de voltar ao convívio com a sua mulher.

Divisão da Obra:
A obra está dividida em três partes.
·       Na primeira parte estão presentes as cartas de Werther a Guilherme, em que ele relata a sua chegada à cidade, a sua adoração pela natureza, a sua felicidade e, sobretudo, a sua paixão por Carlota. É no final da primeira parte que Werther, ciente da impossibilidade de concretizar o seu amor, viaja para longe de Carlota e se emprega ao serviço de um embaixador.
·       No início da segunda parte, as cartas mostram que Werther, motivado pela desconsideração do embaixador e a pela sua insatisfação interior, regressa para perto de Carlota, que só lá se sente bem. A segunda parte é marcada pela angústia e pelo sofrimento de Werther, ao ver o seu amor não correspondido.
·       A terceira parte é constituída pelas notas do editor ao leitor. É a intervenção de um narrador ausente para nos fornecer uma visão algo distanciada dos acontecimentos que antecederam a morte de Werther.

Caracterização de Werther:
Nesta obra, o “eu” vai sendo construído, aos olhos do leitor, por acrescento e sobreposição, surgindo disperso ao sabor dos dias e dos momentos.
·       É exaltado, disparatado, melodramático, fervoroso, desequilibrado, vibrante, comovido, excitado, exagerado, inquieto, desassossegado e extremamente sensível.
·       Tem sempre o sangue a ferver-lhe nas veias
·       Tem o coração sobressaltado
·       Dá voz ao coração e não à razão
·       Revela uma grande transparência de sentimentos
·       É tomado por uma paixão cega, obsessiva, profunda, tempestuosa e quase doentia. Páginas 145 e 146
·       Demonstra paixão, loucura e embriaguez.
·       Revela alguma fragilidade e fraqueza de espírito.
·       Apresenta um carácter inflamado, nada comum aos alemães, que são, na sua maioria, frios, indiferentes, fleumáticos. Diria até que Werther mais parece italiano.
·       As suas últimas cartas manifestam a sua perturbação, o seu delírio, as suas angústias e mágoas, as suas lutas interiores e o seu desgosto pela vida.
·       Nos seus últimos dias, as angústias do seu coração consumiram as forças que lhe restavam; a sua vivacidade e a sua alegria de viver extinguiram-se. A angústia que sentia está bem presente na passagem da página 158. (…)
·       Werther, que mostrou ser desassossegado e exaltado durante toda a acção, revelou nos dias que antecederam a sua morte, uma grande serenidade e tranquilidade interiores, quando decidiu que a única saída para aquele sofrimento é a morte. Fez-me lembrar, embora em contextos diferentes, o “Falling Man”, um homem que se atirou de uma Torre Gémea, com os braços ao lado do corpo, revelando aparentemente uma enorme paz interior, aquando dos atentados do 11 de Setembro.

Análise pessoal:
·       Este livro serviu para Goethe como uma catarse dos seus desgostos e fracassos amorosos, isto é, pela libertação de emoções e sentimentos que haviam sofrido repressão
·       É curioso que Goethe seja o escritor nacional dos alemães, e que se pareça muito pouco com os alemães, em termos de personalidade. Partindo do princípio de que Werther é Goethe, este apresenta um carácter exaltado e inflamado, nada comum aos alemães, que são, na sua maioria, frios, indiferentes, fleumáticos.
·       É um romance de tom autobiográfico ainda que Goethe tenha tido o cuidado de mudar alguns nomes e lugares, a fim de não melindrar as pessoas e de Goethe permanecer no anonimato
·       Pessoalmente, acho que todos os livros são, de alguma forma, autobiográficos. A construção da história resulta de algo que se passou na vida do escritor, algo em que ele tropeçou, algo que ele ouviu, sentiu, viveu ou sonhou. Octávio Paz, escritor mexicano e Nobel da Literatura, disse que “os poetas não têm biografia; a sua obra é a sua biografia”. Penso que isto se aplica a esta obra de Goethe, ainda para mais porque Goethe também é poeta.
·       Apesar das descrições de roupas, tradições e normas características da época, este é um livro actual, na medida em que fala de uma paixão e penso que a essência de sentimentos como o amor não muda nunca.
·       Este é um bom livro, porque, para mim, um bom livro é aquele que fala do universo que está dentro de nós e não do universo que está à nossa volta. Um bom livro é um livro em que me vejo a mim mesmo, em que as páginas são espelhos e me revelam quem sou e, de certa forma, me ajudam a viver.
·       Goethe escreve com tanta intensidade que parece que amamos e sofremos com ele. Conta-se que, pela altura da saída do livro, houve na Europa uma estranha onda de suicídios, devido à profundidade das palavras de Goethe. A obra foi, inclusivamente, proibida nalgumas regiões por se entender que incitava ao suicídio.
·       As palavras aproximam-nos do autor, tornado a nossa concordância com os acontecimentos narrados quase uma imposição, porque é a única voz que se ouve.
·       Werther aborda o problema da existência humana. Fala da efemeridade do homem até nos lugares onde tem certeza da sua existência, na passagem das páginas 132 e 133. (…)
·       Werther estabelece a diferença entre o que foi (vivia feliz, apaixonado, tinha alegria de viver, reconhecia a realização da sua existência na natureza, tudo lhe parecia belo) e o que é (fecha-se numa escuridão grave e pesada, sofre, anda angustiado, manifesta um grande desgosto pela vida, não encontra um sentido para a sua existência) na página 134.
·       O amor pode ser a melhor coisa do mundo mas, se não for correspondido, pode facilmente, transformar-se na pior coisa.

J. Aragão

Sem comentários:

Enviar um comentário