quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Apólogo da Morte

Vi eu um dia a Morte andar folgando
Por um campo de vivos que a não viam.
Os velhos, sem saber o que faziam,
A cada passo nela iam topando.

Na mocidade os moços confiando,
Ignorantes da Morte a não temiam.
Todos cegos, nenhuns se lhe desviam:
Ela a todos co dedo os vai contando.

Então quis disparar, e os olhos cerra:
Tirou e errou. Eu, vendo seus empregos
Tão sem ordem, bradei: Tem-te, homicida!

Voltou-se e respondeu: Tal vai de guerra!
Se vós todos andais comigo cegos,
Que esperais que convosco anda advertida?

D. Francisco Manuel de Melo

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