Escrevo
sobre isto, porque sinceramente não tinha absolutamente certezas nenhumas sobre
o que escrever; apenas uma data de assuntos em consideração, todos com o seu
propósito, mas estava à procura daquele que assentasse bem na vida de todos.
Considerei
abordar assuntos como o fumar, o beber, as drogas, entre outros. Surgiu um que
achei bastante engraçado. Descobri-o num blog
brasileiro e dizia o seguinte: “Porque é que o pernilongo gosta de zumbir em
nossos ouvidos?!”. Confesso que me senti bastante tentado em optar pelo
pernilongo. E fiquei tentado porque queria que a minha reflexão para este texto
incidisse num tema banal, mas com um significado possível e indeterminado, que
metesse as pessoas a pensar algo como “ ´Epá… isto realmente é verdade! Nunca
tinha pensado nisto desta forma…”
Mas depois
voltei a mim e convenci-me que isso era capaz de estar um bocadinho acima das
minhas capacidades para um primeiro texto argumentativo.
Foi então
que, absorto nos meus pensamentos, decidi fazer este texto, exactamente sobre a
Indecisão.
Achei que
era um bom tema para se escrever sobre.
A Indecisão
é algo que nasce connosco e, após ter tentado encontrar possíveis metáforas
para enquadrar melhor o seu papel na vida humana, cheguei à conclusão que a
Indecisão é como as borbulhas.
Depois de
vários minutos a reflectir sobre o assunto, assumo que as borbulhas possam
mesmo ser comparadas à indecisão. Obviamente que se levanta desde já um grande
problema: então e as pessoas que não têm borbulhas?
Pois
realmente há pessoas que não têm, ou têm muito poucas borbulhas. Já neste
aspecto, a Indecisão é importante. Quando estamos indecisos sobre um assunto, é
porque não temos a certeza do que fazer ou do que escolher. Existem sempre
hipóteses, sempre! No entanto, todos sabemos que ao escolhermos uma, rejeitamos
outra, tal como em quase tudo na vida. Chama-se a isto decidir, que é uma das
faces da moeda Decisão-Indecisão.
Deste modo,
a comparação está feita e, se for necessário admitamos que toda a gente passa
pela sua fase “borbulhosa”.
As borbulhas
têm diferentes quantidades de incidência ao longo da nossa vida.
Quando
nascemos, não temos borbulhas. Isso é certo e, se pensarmos bem na fase inicial
da nossa vida, não temos muito com que nos preocupar em decidir. São os outros,
os pais neste caso, ou quem detiver a nossa criação e educação que decidem tudo
por nós: quando comemos, quando passeamos, o que vestir, o que ouvir, o que
ver… A única coisa que poderíamos decidir nos nossos primeiros anos de vida é
quando defecar e urinar e mesmo assim não o controlamos, pois são necessidades
fisiológicas. Só resta mesmo a hora quando choramos durante a noite para
acordar os progenitores e, se reflectirmos com atenção, só choramos porque
estamos com fome, ou porque temos a fralda suja, que são factores consequentes
das nossas necessidades fisiológicas mais uma vez.
Resumindo e
concluindo, nesta fase da vida as coisas ainda são bastante fáceis e sem
quaisquer problemas de indecisão.
Numa fase
seguinte, já somos mais velhinhos. Estamos na primária. Continuamos sem ter
borbulhas. Vá lá… uma de vez em quando, muito raramente. Isto traduz já um
sinal de alerta para o futuro, e é quando se começam a ter as primeiras
indecisões.
Coisas
banais, à partida sem importância relevante e assinalável no nosso percurso
vital, que fazem parte da nossa fase inicial do crescimento enquanto cidadãos,
mas que ainda assim sem repercussões importantes para o futuro.
Temos
indecisões como levar a bola de futebol, no caso dos rapazes, com medo que os
miúdos mais velhos do quarto ano nos tirem e joguem com ela, ou que a
estraguem; ou com medo que o Manuelinho a atire para o outro lado da vedação,
para o terreno dos vizinhos. Ou se levamos a corda ou o elástico para saltar,
no caso das meninas, com medo que se a Menina Débora que é estúpida e parva se
queira juntar a nós, ou ainda mesmo com medo que se estrague ou que se rompa.
Irá surgir
uma coisa ainda neste período da vida que irá assombrar e luzir os nossos dias
até ao final da vida e que será daqui em diante absolutamente crucial e
incontornável na nossa existência: o amor. A Menina Patrícia, ou o Carlitos
começam a olhar para nós e a fazerem uns sorrisinhos. Dois dias mais tarde,
após termos passado imensas horas a pensar nos nossos pretendentes ou
paixonetas, enquanto víamos os Pokémons
ou as Navegantes da Lua, a magia acontece. Os dois pequenos declaram-se,
começam a namorar e casam cinco minutos depois, tal é o amor! Enfim, ainda
assim nada de muito importante, como iremos confirmar numa fase mais adiantada
da vida.
As coisas
começam a complicar-se. Segundo e Terceiro Ciclo. As coisas tomam proporções
desmedidas. As borbulhas tomam proporções desmedidas. As indecisões tomam
proporções desmedidas. Aqui, e só aqui é que se começam a ter verdadeiras
indecisões. Quinto e sexto ano, começa-se de forma ligeira. Poucas borbulhas
ainda. Possivelmente escola nova, amigos novos. Amigos e amigas novas traduzem
novos olhares, novos sorrisos, novas expressões, novos interesses, novas
paixonetas, novos amores. E tudo isto vem agregado a um monte abismal de
preocupações seguidas de indecisões.
Começa a
contar uma coisa bastante importante nos anos de vida seguinte e futuramente na
vida adulta, ainda que por diferentes razões. Essa coisa chama-se Imagem.
Enquanto andávamos a ver as Navegantes da Lua ou o Oliver e Benji quem
queria saber da imagem? A imagem que as crianças se preocupam em manter é quem
possui o melhor beyblade ou as
chuteiras mais sujas.
Agora as
chuteiras sujas são substituídas por camisolas de marca e calças de ganga
giras. Vemos o que nos rodeia e pensamos: E agora, o que sou eu? A partir desta
idade há a grande tendência para nos modelarmos segundo um certo cânone. As
borbulhas começam a aparecer.
Começamos a
querer identificar-nos com pessoas que julgamos serem algo mais.
Começamos a
olhar para as miúdas no intervalo. As miúdas começam a olhar para os rapazes no
intervalo. No Terceiro ano quando casámos com a Menina Olívia éramos miúdos,
sem consciência, que mudávamos de namoradas e namorados como quem muda de
cuecas. Parece muito, mas mesmo muito distante.
As borbulhas
crescem. As indecisões aumentam. “O que levo vestido?”; “Como uso o cabelo?”.
Uma coisa
terrível acontece! Olho ao espelho e vejo um ponto branco na cara! O que é
isto?! Pois é… Uma borbulha com pus… Utilizando a nossa metáfora isto pode
traduzir uma paixão, uma negativa num teste. “Não sei o que fazer…
Declaro-me?”. “E agora? Os meus pais vão-me matar.” Um misto de emoção com
medo, de entusiasmo e precaução, um avanço e um recuo. Isto é indecisão. O que
fazer?! Quando fazer! De repente a vida parece uma máquina de lavar. Nunca
sabemos bem o que fazer. Até que começa a conversa chata dos conselhos de
profissionais, uma ida ao psicólogo. Há uns que chegam mesmo a meter creme para
as borbulhas e, pensam resolver os seus problemas. De facto um creme para as
borbulhas pode ajudar, mas elas podem ter tendência para voltarem a crescer. Ou
não! Podem mesmo parar de vez. Parece que nunca há um período de estagnação. As
coisas complicam-se ainda mais. O furacão Katrina
passa pelas hormonas. Primeiro beijo, primeira namorada, oh meu Deus!
Secundário.
Sexta Namorada. Depois de um pacote de experiência razoavelmente estendido (como
aquelas operadoras televisivas fraquinhas que só proporcionam 50 canais) é como
se já estivéssemos um bocadinho mais habituados a lidar com as terríveis
glândulas sebáceas.
Mas a raça
das borbulhas não param de aparecer. E para além de borbulhas, aparecem crostas
e outras esquisitices na pele, quer por se fazer a barba, quer por se usar
demasiada maquilhagem…
Nesta fase
da vida, crescem decisões e indecisões acrescidas. Primeiro de tudo o curso que
escolhemos no início do Secundário. Mais tarde a Faculdade. Escolher o futuro
desejado para a nossa vida. Este percurso está cheio de escolhas e de provas de
persistência e força de vontade. Uma grande borbulha no meio da testa
completamente branca a abarrotar de pus é o estudar. É preciso muita (mas
quando digo muita, é mesmo muita!) força de vontade para se sentar na mesa,
abrir os livros e pormo-nos a estudar. É uma prova de esforço incrível em que
na maior parte das vezes somos vencidos. Só que agora a moeda é atirada ao ar,
e já é muitíssimo importante se cai Decisão ou Indecisão. É difícil escolher, é
difícil abdicar, é difícil deixar para trás.
A vida tem
de levar um rumo. Nada na vida é feito sem indecisão. Mesmo que não hesitemos,
pensamos sempre como teria sido se tivéssemos ido pelo outro caminho. Tenho 16
anos. Não sei como é ser adulto. Podia basear-me em coisas que vejo na
televisão ou que leio para escrever sobre a fase adulta e idosa. Prefiro deixar
o resto por escrever, porque ainda não tenho a certeza do que hei-de escrever.
A Indecisão
é uma coisa inevitável, todos a sentem na pele de qualquer maneira. Não há como
fugir. O importante é reter que o poder de vencer a indecisão e decidir é
importante. Mas (e há um sempre um mas, passo a fazer a ideia de pleonasmo) é
perigosa e também traiçoeira. É impossível determinar se foi uma boa ou má
decisão na altura em que ela é tomada. Só é certo que a Indecisão ensina e é a
fundamental para o nosso crescimento e evolução enquanto pessoa e no processo
do nosso autoconhecimento. As borbulhas acompanham-nos toda a nossa vida. A
Indecisão é crucial.
A minha
conclusão é a seguinte: Tem de se ter cuidado quando se espremem as borbulhas.
Às vezes é complicado, umas não têm nada para espremer, outras são precisas
espremer várias vezes, outras formam ferida…
Mas todas
são borbulhas. Todas desaparecem. É apenas uma questão de paciência e saber
lidar com a situação e estar preparados para se as borbulhas deixarem marca.
Afonso Ramos
Bento Nº4 11ºD
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