Uniões
Tudo começa com uma palavra ou um gesto
que provocam uma longa conversa e um longo sorriso. Nasce de um conhecimento
superficial e vai crescendo através da troca de ideias, favores, desabafos e
necessidades. Ou não!
A Amizade não é feita por etapas nem medida
por uma escala. Não tem que necessariamente surgir entre as pessoas que estejam
perto de nós e que falam connosco todos os dias. Aliás, muitos de nós
consideramos nossos amigos aqueles que na realidade apenas são nossos vizinhos
e conhecidos, que nos despertam interesse e conforto, mas não o verdadeiro amor
e confiança. A este tipo de relação chama-se amizade de conhecidos. Ainda se distingue
a solidariedade colectiva como a amizade que existe entre pessoas que estão do nosso
lado e que partilham connosco as mesmas ideias. Esta existe, por exemplo, na
guerra ou até mesmo nos locais da paz, as igrejas. Todos se chamam amigos e
companheiros, mas na verdade estas relações não passam de uma ligação colectiva
e comum. Estas pessoas, na maioria das vezes, nem falam sobre os seus problemas
mais íntimos. Continuamente, as relações de posição baseiam-se apenas, tal como
o nome indica, na posição social. Passa-se no mundo dos negócios e da política.
Ligações como estas duram o tempo que for preciso até satisfazermos uma ou mais
necessidades.
Mas será que falar destes três conceitos
como significados de amizade é um exercício lógico e prático? Eu penso que não.
Amizade verdadeira e saudável é aquela que, pura e simplesmente, surge por
acaso. É quando não estamos à espera daquele momento ou daquele contacto com
determinada pessoa. Acontece. É possível considerarmos amigo aquela pessoa que
se cruza connosco de vez em quando, que nos fala em certos momentos e que nem
sempre nos abraça. O que distingue esta relação das outras todas, tendo assim o
privilégio de ser considerada a verdadeira amizade, é o sentimento que provoca
dentro de nós. É o desejar ter a sua presença, o sentirmo-nos à vontade para
falar de tudo, a falta de egoísmo e a pura preocupação, assim como a ligação
forte existente. Até nalguns casos, as pessoas ao encontrarem-se pela primeira
vez, sentem uma ligação forte do passado como se antes já se tivessem
conhecido. Não se trata de uma solidariedade colectiva, mas sim de algo comum
que aparenta ter existido e que continua a existir. É uma forte ligação que não
deve ser confundida com uma atracção amorosa mas sim levada como um privilégio
de nos termos cruzado com alguém que nos faz sentir tão felizes, e não só. Que
tem a capacidade natural de nos fazer sentir nós próprios e de partilhar
connosco uma simpatia, um interesse único e uma afinidade.
Tal como Francesco Alberoni escreveu no seu livro: “A Amizade começa como um
acto sem continuidade, um salto”. Ou seja, por mais que nós lutemos para
encontrar a pessoa que idealizamos ser a nossa amiga ou tentar buscar esse
mérito em alguém, não adianta de nada porque a verdadeira amizade surge sem
avisar, sem esforço e vive da sucessão de encontros das pessoas em causa.
Portanto, é uma relação afectiva que apenas aparece e sobrevive das atitudes
dos que estão envolvidos. O “salto” é uma forma ideal de ver a Amizade. Retrata
a influência positiva que esta tem para a vida de um ser humano.
Ora, nem toda a gente fala da Amizade de
uma forma tão positiva e gratificante como esta. Daqui surge um problema do
nosso quotidiano. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, outras consideram
a Amizade um anacronismo. Tomam-na como uma herança do passado e uma fonte de
angústia que vai perdendo importância ao longo dos anos, acabando assim por
desaparecer para dar lugar a relações impessoais e objectivas. É considerada
ainda um meio para se passar à frente dos outros e para iludir a lei. Vejamos
os serviços sociais como exemplo. Este sistema deve fazer as suas prestações
não aos recomendados, os “amigos”, mas sim a todos. Seguindo esta lógica,
qualquer sistema como este que se basear na Amizade é considerado parcial,
negativo e injusto porque apenas atribui importância ao privilégio,
recomendação e critérios particularistas. É desta forma que certos indivíduos
classificam a Amizade desde o passado até aos dias de hoje. E sim chamo-os a
todos estes que pensam desta forma, uns indivíduos.
É verdade que o conceito de Amizade tem
perdido valor com o desenvolver da Humanidade. Todos nós sabemos que existem
três obstáculos a esta relação afectiva: o mundo dos negócios completamente
dominado pelo mercado e interesses económicos de cada um de nós; o mundo da
política no que diz respeito à competição pelo poder e o próprio quotidiano
pois, com o passar do tempo, o ser humano vai ganhando novos interesses, novas
necessidades e múltiplos encontros. No entanto, a Amizade é uma componente
essencial da nossa vida. Considero até que ela, em certos casos, poderá se
tornar uma necessidade prioritária do homem. O que seria de nós solitários
neste Mundo? Sem nenhum apoio, sem ninguém para desabafar, trocar ideias,
partilhar experiências e vivências ou simplesmente para comunicar? A resposta é
simples…seríamos ninguém. Melhor dizendo, seríamos uns “indivíduos” tais como
todos aqueles que defendem que a amizade é inútil e injusta. Esta relação
afectiva recebe esta ridícula classificação se nós agirmos como tal. Tudo
depende das nossas atitudes e valores, das nossas crenças e conhecimentos, da
nossa personalidade e feitio e até dos nossos sonhos. A Amizade foi, é e sempre
será condicionada pelo pensamento do ser humano. E se alguém nos perguntar se
ela ainda existe no mundo contemporâneo nós iremos afirmar a sua existência e reconhecer
a sua sobrevivência perante tudo o que lhe advém. No entanto, todos nós
formamos uma união. Todos nós formamos uma Amizade.
Rita Alexandra Matos Nº19 11ºD
Sem comentários:
Enviar um comentário