domingo, 21 de outubro de 2012

Canto VI Est 70-94


As estrofes 70 até 94 do canto VI apresentam-nos o episódio da tempestade, que ocorre na viagem de Melinde para Calecute. Dado que a embarcação estava já próxima de Calecute, Baco não querendo ver os portugueses alcançar o triunfo, com auxílio de Neptuno, faz forças para que os Deuses dificultem a viagem, com uma tempestade de ventos, ondas que fazem com que se quebrem mastros, as naus se alaguem juntamente com relâmpagos e trovões. 

 A tripulação insiste permanentemente em pedir que a divina providência os ajude, e é Vénus responde a tais pedidos enviando as ninfas para que seduzam os ventos e estes, acabam por enfraquecer.  

 Logo no final da tempestade, os portugueses avistam Calecute e ficam de novo esperançosos, finalizando com Vasco da gama a agradecer esta ajuda divina. Volta tudo à harmonia inicial. 

Canto VI 95-99 e a sua relação com as ideias de Mérito e Recompensa

 Luís de Camões ao apresentar-nos estas cinco estrofes deixa-nos também a sua reflexão pessoal acerca do episódio da Tempestade, no caminho para Calecute e transmite-nos a sua interpretação de duas caraterísticas essenciais na obra, mérito e recompensa.

 Para ultrapassar as dificuldades inerentes à tempestade os portugueses tiveram que se transcender e unir esforços, tiveram que lutar para glorificar o nome do seu país sem qualquer interesse ou objetivo secundário em vista. Para Camões, estes atos, repletos de pureza e genuinidade, são os mais íntegros e que merecem maior reconhecimento, pois assentam em valores e princípios que estão presentes no individuo independentemente das consequências positivas/ negativas dos seus atos. 

 Vemos neste episódio, no entanto, algumas marcas de preocupação por parte dos portugueses em morrer em viagem, pois em solo desconhecido e alheio ao seu, ninguém iria honrar devidamente a sua morte, o que reflete a necessidade do ser humano em ser reconhecido pelas suas bravuras. É esta também uma das razões porque ultrapassam os seus limites, pois morrer em Portugal faz com que não sejam esquecidos. Cria-se um antagonismo de ideias entre o morrer em terra e morrer em mar, sendo a morte em solo nacional uma morte com glória e a morte marítima uma desilusão total. 

 É também importante a ideia de que o povo português não se pode segurar na história honrosa feita pelos seus antepassados para garantir a sua própria glória. O facto de nascermos numa boa família ou num país reconhecido em qualquer parte do mundo não é suficiente para adquirirmos tal estatuto. Nós somos responsáveis pelos nossos próprios feitos e os outros pelos deles. É a estes que Camões faz a sua crítica, aos que se deixam levar pela ganância de aproveitar os feitos dos outros para se glorificarem a eles próprios, para que possam ser eles a receber as respetivas recompensas, afirmando que uma vida sem esforço não deverá ter as suas virtudes. 

 Os portugueses, que passaram pelas maiores adversidades, têm o direito de aspirar à honra imortal, pois o estatuto de herói não se atinge com facilidade. Após estes feitos, após todo o sufrágio, a dor começa a desaparecer e a fazer-se ver com mais dificuldade, pois a resistência é agora maior, sendo esta uma das grandes caraterísticas de um herói. 

 Pedro Tomé Nº19 12ºD

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