Canto VI Est 70-94
As estrofes 70 até 94 do canto VI apresentam-nos o episódio
da tempestade, que ocorre na viagem de Melinde para Calecute. Dado que a
embarcação estava já próxima de Calecute, Baco não querendo ver os portugueses
alcançar o triunfo, com auxílio de Neptuno, faz forças para que os Deuses
dificultem a viagem, com uma tempestade de ventos, ondas que fazem com que se
quebrem mastros, as naus se alaguem juntamente com relâmpagos e trovões.
A tripulação insiste
permanentemente em pedir que a divina providência os ajude, e é Vénus responde
a tais pedidos enviando as ninfas para que seduzam os ventos e estes, acabam por
enfraquecer.
Logo no final da
tempestade, os portugueses avistam Calecute e ficam de novo esperançosos,
finalizando com Vasco da gama a agradecer esta ajuda divina. Volta tudo à
harmonia inicial.
Canto VI 95-99 e a
sua relação com as ideias de Mérito e Recompensa
Luís de Camões ao
apresentar-nos estas cinco estrofes deixa-nos também a sua reflexão pessoal acerca
do episódio da Tempestade, no caminho para Calecute e transmite-nos a sua
interpretação de duas caraterísticas essenciais na obra, mérito e recompensa.
Para ultrapassar as
dificuldades inerentes à tempestade os portugueses tiveram que se transcender e
unir esforços, tiveram que lutar para glorificar o nome do seu país sem
qualquer interesse ou objetivo secundário em vista. Para Camões, estes atos,
repletos de pureza e genuinidade, são os mais íntegros e que merecem maior
reconhecimento, pois assentam em valores e princípios que estão presentes no
individuo independentemente das consequências positivas/ negativas dos seus
atos.
Vemos neste episódio,
no entanto, algumas marcas de preocupação por parte dos portugueses em morrer
em viagem, pois em solo desconhecido e alheio ao seu, ninguém iria honrar devidamente
a sua morte, o que reflete a necessidade do ser humano em ser reconhecido pelas
suas bravuras. É esta também uma das razões porque ultrapassam os seus limites,
pois morrer em Portugal faz com que não sejam esquecidos. Cria-se um
antagonismo de ideias entre o morrer em terra e morrer em mar, sendo a morte em
solo nacional uma morte com glória e a morte marítima uma desilusão total.
É também importante a
ideia de que o povo português não se pode segurar na história honrosa feita
pelos seus antepassados para garantir a sua própria glória. O facto de nascermos
numa boa família ou num país reconhecido em qualquer parte do mundo não é suficiente
para adquirirmos tal estatuto. Nós somos responsáveis pelos nossos próprios
feitos e os outros pelos deles. É a estes que Camões faz a sua crítica, aos que
se deixam levar pela ganância de aproveitar os feitos dos outros para se
glorificarem a eles próprios, para que possam ser eles a receber as respetivas
recompensas, afirmando que uma vida sem esforço não deverá ter as suas
virtudes.
Os portugueses, que
passaram pelas maiores adversidades, têm o direito de aspirar à honra imortal,
pois o estatuto de herói não se atinge com facilidade. Após estes feitos, após
todo o sufrágio, a dor começa a desaparecer e a fazer-se ver com mais dificuldade,
pois a resistência é agora maior, sendo esta uma das grandes caraterísticas de
um herói.
Pedro Tomé Nº19 12ºD
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