Os Lusíadas, Canto VI (95.99) - Relacionar com o episódio anterior determinando o que Camões refere acerca de mérito e recompensa
É por meio destes perigos assim, através destes graves
trabalhos e temores, que se devem alcançar as honras imortais e os nobre
títulos. Não é encostado sempre ao antigo tronco nobre dos antepassados, nem
deitado em luxuosos leitos entre peles preciosas. Não é com requintados
manjares, não com passeios insolentes e inúveos, não com futilidades que
enfraquecem os animais dos filhos dos nobres, não com ambições que a Fortuna
tem sempre tão atraentes que não permite a ninguém que mude de rumo por se
dedicar a obras de verdadeiro valor. Mas procurar, com os próprios braços,
honras que seja mesmo suas; vigiando, vestindo as armas, sofrendo tempestades,
suportando os frios ventos do sul, engolindo alimentos corruptos temperados só
com duro sofrimento. E com dominar-se e não mostrar medo, mostrando seguro ante
a bala de fogo que assobia e leva a perna ou o braço ao companheiro. É desse
modo que se forma um calo honroso que despreza as honras e o dinheiro que a
sorte, e não a virtude concedem. Assim se esclarece a inteligência e se atinge
uma serenidade que permite ver as coisas do alto e julgar as confusas relações
entre os homens. São estes o que, numa sociedade regida pelo dinheiro e não
pelas amizades, devem ser chamados, mesmo contra as suas vontades, a exercer o
Poder.
Tiago Oliveira, nº22, 12ºD
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